VICTOR HAIM
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ANDRÉ SHEIK - sobre o artista e a obra
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SOBRE A OBRA
Victor Haim – mais do que impressões
Não se deixe seduzir pela superfície das imagens. Esta é uma
tentação fácil, uma redução que irá privar-lhe de outras sensações. As
imagens captadas por Victor Haim revelam distintas aparições, e têm
origens e naturezas diversas, mantendo uma unidade que não se resume à
técnica fotográfica, pois está presente também nas formas, nas cores e
na maneira como os assuntos são abordados. É preciso ver com calma para
estabelecer as relações.
O nosso olhar está aonde o nosso olho vai. Quando encontra suas
pinturas nos reflexos das superfícies irregulares (seja na lataria do
carro, no café ou na água), após procurar um aspecto específico, porém
indefinido, na aleatoriedade, Victor está em busca do silêncio. Uma
separação do mundo externo em um abrigo construído.
Mesmo quando seleciona o que será refletido, não há controle sobre
qual transformação a superfície irá proporcionar, só é possível dominar
a escolha do ângulo e do enquadramento ao fazer a captura -
desvelando-se, aí, a visão do artista. Opera-se, então, uma redefinição
do mundo com distorções próprias de uma realidade percebida por cada
ponto de vista singular do observador. Há o encontro com esse universo
silencioso que salta aos olhos de quem para ele olha e o vê. Infinitas
imagens gritam diante de nós todos os dias, escolhemos aonde fixar o
nosso olhar.
O artista reconstrói o mundo a partir do próprio mundo, cria uma
nova realidade ao estancar, na fotografia, a constante mudança das
formas e das cores que nos rodeiam. Abrem-se novas perspectivas para o
espectador, instigando-o a refletir sobre o que existe para além da
superficialidade aparente. Reflexos gerando reflexões; superfícies
levando-nos para um denso mergulho.
Victor observa o seu entorno e capta aquilo que o sensibiliza. Sem
passar despercebidos, os refúgios do olho, captados pelas lentes, mais
do que simples registros, vêm invadir suavemente a nossa percepção do
visível, atingindo as nossas sensibilidades de maneira ampla e profunda.
Deixe-se seduzir pelas imagens.
André Sheik – dezembro 2011
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ON THE WORK
Victor Haim – more than impressions
Don't let the surface of images take you in. It is so tempting a
simplification, but it will deprive you of other senses. The images
captured by Victor Haim reveal different apparitions and are of
different origins and natures. What unites them is not just the
photogaphic technique used, but also the forms and colors and the way
the subjects are approached. They must be lingered over for the
relationships to emerge.
Our attention goes wherever our eyes rest. When Haim finds his
images in the reflections of uneven surfaces (whether a car body, a
coffee blot or some water), after looking for a specific yet not defined
aspect in randomness, what he seeks is silence. Something apart from the
outside world in a manmade shelter.
Even when he chooses what should be reflected, there is no way of
knowing how the surface will transform it. The only thing that can be
controlled is the choice of angle and framing when the image is shot –
which is where the artist's vision comes in. In this process, the world
is redefined with distortions that belong to reality as perceived from
each observer's particular viewpoint. There is an encounter with this
silent universe which becomes evident to those who look at and see it.
Countless images cry out before us every day and we decide where to rest
our gaze.
The artist reconstructs the world from the world itself, creating
a new reality as he staunches the constantly shifting forms and colors
that surround us through photography. New perspectives open up for the
viewer, prompting them to reflect upon what lies beyond the suface
apprearance. Reflections engender reflections; surfaces draw us inwards.
Victor Haim observes his surroundings and picks out whatever
strikes his senses. Without going unnoticed, these visual havens
captured by his lenses are more than just records; they gently invade
our sense of sight, touching us in many and profound ways.
Allow yourself to be moved by the images.
André Sheik – December 2011
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VICTOR HAIM - sobre meu trabalho
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Em busca do silêncio
Preciso, como de ar, de um refúgio silencioso à mão onde a
qualquer momento possa descansar, fugindo do barulho da realidade.
Encontrei meu lugar nos reflexos. Onde houver um pingo de luz, haverá um
oásis de quietude.
Os reflexos que me interessam não são aqueles resultantes de
superfícies lisas, que apenas espelham a realidade. Me emociona o
reflexo distorcido pelas superfícies irregulares que brincam de atirar a
luz em várias direções criando novos mundos, reinventando a realidade.
Os reflexos são sistematicamente descartados pelo nosso cérebro
para conseguirmos focar no que é necessário para nos manter produtivos
ou mesmo vivos.
Para permanecermos funcionais, inconscientemente fazemos uma
triagem da realidade à nossa volta, ignorando a maior parte das
informações, evitando “travar” como um computador sobrecarregado.
Por outro lado, algumas destas realidades podem ser
surpreendentes.
Nestas me concentro.
Nestas encontro paz.
Através
destas me expresso.
IN THE PURSUIT OF SILENCE
Just as I need air, I need a quiet haven close at hand where I can
rest whenever I feel the need, escaping from the bustle of reality. I
have found my place in reflections. Wherever there is a drop of light,
there will be an oasis of quietness.
The reflections that appeal to me are not those produced on flat
surfaces, which just mirror reality. What quickens my imagination is
reflections warped by uneven surfaces that cast light in different
directions, creating new worlds, reinventing reality.
Our brains are constantly discarding the reflections we see so we
can focus on what is essential to remain productive or even alive.
In order to remain functional, we unconsciously filter the reality
that surrounds us, ignoring most of the information. It is a mechanism
that stops us from “crashing” like an overloaded computer.
But at the same time these unnoticed realities can also be
unexpectedly intriguing.
In these I focus.
In these I find peace.
Through these
I express myself
Victor Haim 2012
SOBRE O ARTISTA
Nascido em 1960, Victor Haim, desde cedo
transformava coisas antigas, quebradas, em outras coisas. Essa obsessão
pela transformação perdura até os dias de hoje.
Em 1979, em Curitiba trabalha na construção de cenários, confecção
de adereços e montagem de luz para espetáculos teatrais.
De 1981 a 1984, de volta ao Rio participa da cultuada montagem da
peça “A Tempestade” de Shakespeare no Parque Laje. O espetáculo foi
montado na área da piscina da EAV – Escola de Artes Visuais e convive
estreitamente com a Geração 80, especialmente com Leonilson.
Em 1994 conhece Marcantonio Villaça, que o introduz à Arte
Contemporânea e suas questões.
Em 2001 e 2002 atuando na Casa do Zezinho como voluntário num
programa de educação pela arte, começa a usar a colagem digital e a
fotografia manipulada como meio de expressão.
Em 2002 Victor conhece a câmera digital portátil e seus recursos
de macro. Encontra no micromundo um fértil canal de expressão. Junta sua
bagagem teatral de cenografia aos recursos da câmera e passa a montar e
fotografar microinstalações.
Em 2003 durante um curso na EAV, ministrado por Marcos Chaves, seu
trabalho ganha consistência teórica e perspicácia. Nessa época descobre
o tema café, que permanece até hoje em seu repertório de diversas
formas.
Por sugestão do professor coloca seu trabalho à prova e
inscreve-se no 30º Salão de Arte Jovem do CCBEU de Santos e recebe o
Prêmio Santander pelo 1º lugar.
Ainda em 2003, sob a curadoria de Marcos Chaves, participa da
coletiva 7 Cabeças, no Parque Laje, formada pelos participantes do
curso.
De 2004 a 2008 permanece a maior parte do tempo em tournée pela
Europa como tour manager de Milton Nascimento, Com a câmera sempre a
mão, fotografa os reflexos do cotidiano das cidades por onde passa.
Em 2004, participa da coletiva “Posição 2004” com curadoria de
Anna Bella Geiger e Fernando Cocchiarale
Em 2005 é convidado pelo Centro Cultural Banco do Brasil para
produzir uma série de 9 fotos para serem expostas na fachada do CCBB
durante a reforma. Ampliações de 200 x 300 cm permanecem nos janelões
externos por mais de um ano anunciando as atividades do CCBB.
Em 2009 participa da coletiva “Amigos... Uma História”, da
programação do FotoRio 2009, no Museu da República. Formada por amigos e
clientes da Casa da Foto, hoje Casa2, tendo o privilégio de expor junto
à fotógrafos de grande expressão sob a curadoria de Antonio Garrido e
Humberto Cesar.
Em 2011, após finalizar o Memorial Minas Gerais, um museu
multimídia idealizado e desenhado por Gringo Cardia, Victor Haim passa a
se dedicar integralmente as artes visuais.
No final de 2011 apresenta sua 1ª exposição individual com
curadoria e texto de André Sheik.
Em 2012 passa a maior parte do ano em NY estudando no ICP -
International Center of Photography e expõe no The Out NYC.
Em 2014 é convidado pela Almacén Galeria para fazer parte do seu
elenco.
ABOUT THE ARTIST
Born in 1960, from an early age Victor Haim
was interested in taking old, broken articles and turning them into
something new. This obsession with transformation has stayed with him to
this day.
In 1979, he worked in Curitiba as a stage hand, learning about set
construction, prop design and theater lighting.
From 1981 to 1984, back in Rio, he took part in the acclaimed
production of Shakespeare's The Tempest in Parque Laje. The play was
staged in the swimming pool area of the EAV school of visual arts, and
was closely involved with the so-called Eighties Generation, especially
Leonilson.
In 1994 he met Marcantonio Vilaca, who introduced him to
contemporary art and the questions it addresses.
In 2001 and 2002, working as a volunteer in an art education
project for underprivileged children at an NGO, Casa do Zezinho, he
started using digital collage and manipulated photography as a form of
expression.
In 2002, Victor started to work with portable digital cameras and
investigate their macro resources. He discovered a fertile field of
expression in the microworld. Combining the camera's functionalities
with his set design experience, he started to create and shoot micro
instalations
In 2003, Victor did a course at EAV with Marcos Chaves which gave
his work a new level of theoretical consistency and discernment. At
about this time, coffee became a theme of his work, and one that has
reappeared since then in different guises.
On his teacher's suggestion, he put his work to the test and
entered the 30th Salao de Arte Jovem do CCBEU in Santos, where he won
the first prize, sponsored by Santander. As a result, “Tem Dado?”, a
unpretentious play on a work by Valtercio Caldas, was added to the
bank’s private collection.
Still in 2003, Victor participated in “7 Cabeças”, a joint
exhibition put on by the students of the EAV course and curated by
Marcos Chaves.
From 2004 to 2008, Victor worked much of the time as
singer-songwriter Milton Nascimento’s tour manager during his European
tours. With his camera at the ready, he captured the reflections of
daily life in the cities he visited.
In 2004 he participated in the “Posicao 2004” art show curated by
Anna Bella Geiger and Fernando Cocchiarale.
In 2005, Centro Cultural Banco do Brasil commissioned him to
produce nine photographs to be displayed on the building's exterior
while it was being renovated. These gigantic two-by-three meter
photographic enlargements advertising the cultural center's activities
covered the cultural center's windows for more than a year.
In 2009 he took part in “Amigos... Uma História”, a joint
exhibition that was part of FotoRio 2009, held at Museu da República.
Showing the work of a group of freinds and clients of Casa da Foto, now
Casa2, it was an opportunity to exhibit alongside some leading
photographers under the curatorship of Antonio Garrido and Humberto
Cesar.
In 2011, having finished Memorial Minas Gerais, a multimedia
museum conceived and designed by Gringo Cardia, Victor Haim turned his
full attention to his artistic career.
At the end of 2011, Victor Haim put on his first solo show,
curated and criticized by André Sheik, with the support of art dealer
Marcia Mello, of TempoGaleria.
In 2012 spends most of the year in NYC studying at ICP -
International Center of Photography and does an art show at The Out NYC.